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A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) apresentou, na tarde desta terça-feira (9), durante audiência pública da Comissão de Viação e Transportes (CVT) da Câmara dos Deputados, os resultados inéditos da 3ª edição da Pesquisa Nacional CNTA sobre a Realidade do Transportador Autônomo de Cargas. O levantamento, considerado referência no setor, retrata de forma técnica e abrangente o perfil, as condições de trabalho, os desafios e as percepções dos caminhoneiros autônomos em todo o país.
A edição de 2025 reforça uma preocupação crescente: o envelhecimento da categoria e a falta de renovação profissional. A pesquisa mostra que a idade média do caminhoneiro autônomo é de 46 anos e que 34% já têm 50 anos ou mais. Além disso, 86% afirmam que nenhum de seus filhos pretende seguir a profissão, indicando um rompimento definitivo com a tradição familiar que historicamente sustentou o setor. O cenário se agrava diante do dado de que 23% dos caminhoneiros desejam deixar a atividade e que 82% não se sentem valorizados. Essa combinação aponta para uma possível crise futura de abastecimento e de mão de obra no transporte rodoviário.
A pesquisa foi aplicada pela Trucker Inovação e Empreendedorismo Social LTDA, empresa contratada pela CNTA, entre junho e agosto de 2025, por meio de entrevistas presenciais. Foram ouvidos 2.002 caminhoneiros autônomos cadastrados no RNTRC, distribuídos proporcionalmente pelas cinco regiões do país. A coleta ocorreu em postos de combustíveis, centros de carga, balanças rodoviárias e pontos estratégicos de circulação, abrangendo 11 estados: Amazonas, Tocantins, Bahia, Pernambuco, Sergipe, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
PANORAMA GERAL
O estudo evidencia que 99% dos entrevistados são homens e 62% possuem apenas o ensino fundamental. Os dados mostram também que 89% têm filhos, reforçando o impacto social da atividade e a relevância da profissão no sustento familiar.
A idade média dos caminhões é de aproximadamente 15 anos; 33% possuem veículos com 10 a 14 anos de uso e 71% já quitaram o equipamento. Além disso, 58% utilizam pneus recauchutados. Os números reforçam a necessidade de políticas de renovação veicular com crédito acessível e programas adequados para autônomos.
A rotina de trabalho permanece marcada por jornadas extensas e longos períodos longe de casa. A média diária é de 14 horas de trabalho e o caminhoneiro permanece, em média, 16 dias por mês fora do convívio familiar. A renda líquida média registrada é de aproximadamente 14 mil reais mensais, o que equivale a 40 reais por hora trabalhada, valor considerado baixo diante dos custos operacionais elevados. A pesquisa também aponta que 96% descansam em postos de combustível, pela falta de pontos de parada adequados.
No campo da saúde, os dados revelam fragilidades importantes. Um total de 56,7% possui alguma comorbidade e 62% só realizam consultas médicas quando já estão doentes. Além disso, 86% não praticam atividade física. A pesquisa também identificou que 27,3% já utilizaram alguma substância psicoativa para dirigir.
A percepção de insegurança nas rodovias é outra marca da profissão. Segundo os entrevistados, 58% dizem nunca se sentir seguros e 16,9% já foram vítimas de furto de carga e 13,3% de roubo com uso de violência. A situação é agravada pelo descumprimento de direitos legais: 52% não recebem o vale-pedágio obrigatório por TAG, 46,1% afirmam esperar mais de cinco horas para carregar ou descarregar e mais de 90% não recebem o pagamento da estadia pelo tempo parado.
Os dados mostram ainda que 84,9% não concordam com a regra das 11 horas seguidas de descanso e 78% afirmam que é difícil encontrar locais adequados para cumpri-la, evidenciando falhas estruturais que prejudicam a segurança e a qualidade de vida dos profissionais.
AUDIÊNCIA PÚBLICA
A audiência pública foi requerida pelo deputado Zé Trovão (PL-SC) e apresentada pelo deputado Leonidas Cristino (PDT-CE) e contou com a participação de parlamentares, representantes do Governo e entidades que compõem a base coligada da CNTA.
Após a apresentação dos dados, o plenário iniciou um debate sobre as informações expostas. Ao levar os resultados à Câmara dos Deputados, a CNTA busca ampliar a visibilidade das fragilidades da categoria no espaço onde são discutidas e elaboradas as leis que podem garantir a proteção e o fortalecimento dos caminhoneiros autônomos.